segunda-feira, 31 de março de 2014

CONTO "O CICLISTA" - DALTON TREVISAN

       Curvado no guidão lá vai ele numa chispa. Na esquina dá com o sinal vermelho e não se perturba – levanta voo bem na cara do guarda crucificado. No labirinto urbano persegue a morte com o trim-trim da campainha: entrega sem derreter sorvete a domicílio.

       É sua lâmpada de Aladino a bicicleta e, ao sentar-se no selim, liberta o gênio acorrentado ao pedal. Indefeso homem, frágil máquina, arremete impávido colosso, desvia de fininho o poste e o caminhão; o ciclista por muito favor derrubou o boné.

       Atropela gentilmente e, vespa furiosa que morde, ei-lo defunto ao perder o ferrão. Guerreiros inimigos trituram com chio de pneus o seu diáfono esqueleto. Se não se estrebucha ali mesmo, bate o pó da roupa e – uma perna mais curta – foge por entre nuvens, a bicicleta no ombro.

       Opõe o peito magro ao pára-choque do ônibus. Salta a poça d´água no asfalto. Nem só corpo, touro e toureiro, golpeia ferido o ar nos cornos do guidão.

       Ao fim do dia, José guarda no canto da casa o pássaro de viagem. Enfrenta o sono trim-trim a pé e, na primeira esquina, avança pelo céu na contramão, trim-trim.
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Dica de leitura: http://blog.transporteativo.org.br/2009/12/01/manual-ciclista-urbano/




sábado, 29 de março de 2014

FINAIS INESQUECÍVEIS

"O céu está sombrio e escuro, cinzento-escuro. O que foi a vida em todos esses anos? Sacrifício e devotamento. É como ver numa tarde assim de chuva, pesada de tristezas. Mas não sei lamentar; se fosse preciso recomeçar novamente, novamente faria minha vida a mesma que foi, de sacrifício e devotamento. Devo ser feliz porque cada filho seguiu o caminho escolhido.
No meu último aniversário, recebi um pacote de minha irmã vindo de Itapetininga; abri com curiosidade. Havia 'uma' caixa de figos cristalizados, 'uma' lata de goiabada em calda e 'um' tijolo de pessegada. Apenas.
Grossas gotas de chuva caem do céu sobre a terra, sobre as árvores e sobre os telhados. Cor de cinza. Solidão. "

Éramos Seis - Maria José Dupré

sexta-feira, 28 de março de 2014

FLORES DO PUXADINHO

Desafiados a compor sextilhas que traduzissem as características de cada uma das três gerações de poetas românticos, os alunos do 2ºA, do Colégio Paulina, exploraram o tema "flor". Vimos em sala que a primeira geração se preocupou com a exaltação da Pátria e a construção da identidade nacional, enquanto que a segunda imergiu totalmente nas características mórbido-depressivas do chamado "Mal do Século". As composições que seguem demostram um pouco essas especificidades. Quanto à terceira geração, a condoreira, que apregoava a liberdade, o poema elaborado não trabalhou a contento suas idiossincrasias... Tanto que, no anseio de rimar a qualquer custo, produziu-se a pérola "(...) Oh, flor!/Que brilhava no meu condor..." Confira as sextilhas inspiradas em duas das gerações da poesia romântica brasileira.

Poemas – Tema: Flor

1ª Geração do Romantismo

Por onde olho há flores,
Na floresta imaculada.
Os aromas, formas e cores...
Presentes da minha terra adorada!
E a mais linda entre todas elas
É a dona dos meus amores.

(Maria Isabel)

2º Geração do Romantismo

Oh bela! Minha amada!
És tão linda como as flores.
O cheiro das rosas me fazem lembrar de ti...
Porém, seus espinhos me mantém afastado.
A única solução será morrer,
Para por ti não sofrer.

(Produção coletiva)


FLORES NO PUXADINHO

As flores sempre estiveram presentes nas composições poéticas, símbolos máximo da beleza e indispensáveis na celebração do amor romântico. O poeta Afonso Lopes de Almeida ressaltava que a importância das flores vai além do que é aparente.

A FLOR

Que linda flor! – dizeis – porém
reparai bem:
vede que a sábia Natureza
não lhe deu só beleza,
mas fê-la útil também.

Beleza que é só beleza
embora que nada se iguale,
é coisa fútil…
Pois, com franqueza,
ser belo de nada vale,
se não se é útil.

Leis da vida, leis do amor!
Tudo produz, e o produto
novos produtos adiante,
constante, continuamente!
A flor se transforma em fruto,
o fruto faz-se semente,
volta a semente a ser planta,
torna a planta a abrir-se em flor!

Se tudo é útil no mundo,
e produtivo, fecundo,
nós, por nosso próprio bem,
trabalhemos,
estudemos,
sejamos úteis também!


Afonso Lopes de Almeida

quarta-feira, 19 de março de 2014

UM PÁSSARO AZUL NO PUXADINHO



 

O aluno Guilherme Furlan (dia do 2ºA no Puxadinho) produziu um belo pássaro azul em origami. Quem vive e respira literatura só pode fazer este tipo de associação: eis aí 
o poema "Pássaro azul", de Charles Bukowski.

há um pássaro azul no meu coração
que quer sair
mas eu sou demasiado duro para ele,
e digo, fica aí dentro,
não vou deixar
ninguém ver-te.
há um pássaro azul no meu coração
que quer sair
mas eu despejo whisky para cima dele
e inalo fumo de cigarros
e as ... e os empregados de bar
e os funcionários da mercearia
nunca saberão
que ele se encontra
lá dentro.
há um pássaro azul no meu coração
que quer sair
mas eu sou demasiado duro para ele,
e digo, fica escondido,
queres arruinar-me?
queres ...-me o
meu trabalho?
queres arruinar
as minhas vendas de livros
na Europa?
há um pássaro azul no meu coração
que quer sair
mas eu sou demasiado esperto,
só o deixo sair à noite
por vezes
quando todos estão a dormir.
digo-lhe, eu sei que estás aí,
por isso
não estejas triste.
depois,
coloco-o de volta,
mas ele canta um pouco lá dentro,
não o deixei morrer de todo
e dormimos juntos
assim
com o nosso
pacto secreto
e é bom o suficiente
para fazer um homem chorar,
mas eu não choro,
e tu?

AINDA SOBRE IDENTIDADE NACIONAL...

O texto que segue foi produzido coletivamente pelo 2ºA, do Colégio Paulina, após discussão acerca dos estereótipos relacionados ao perfil do brasileiro. Nesta narrativa a turma reproduziu vários deles. Leia e identifique!

A Parada de Getúlio

         Recém formado na faculdade de Engenharia Civil, Ronilsom adora acordar tarde e sair com seus amigos, mas quanto ao trabalho ele é meio desleixado.
         Em uma manhã, seu chefe liga, informando-o que tem apenas uma semana para terminar a construção de um prédio, pois ele já marcou uma festa de inauguração. Sendo assim, Ronilsom pede mais dinheiro para concluir a obra. No fim ele consegue cumprir o prazo e ainda sobra uma pequena quantia em dinheiro que ele resolve guardar para si mesmo.
         Chega então a noite da inauguração, Ronilsom ainda está em casa se arrumando enquanto muitos convidados já estão devorando os canapés. Ronilsom olha de relance para sua janela e vê um vulto preto passando no telhado mais próximo de sua casa e se dá conta de que era apenas Fluxy, o gato preto de sua vizinha, provavelmente em busca de um lanchinho noturno. Foi nesse momento que Ronilsom percebeu que sua noite não seria boa.
         Quando chega na festa, logo “de cara” vê sua ex-mulher com Getúlio, um dos homens que trabalha para ele. Ao longo da festa, Ronilsom se remoía de ciúmes por ver sua ex-mulher com outro homem, até que ele não aguentou e foi tirar satisfação com ela.
         Com a discussão acalorada acontecendo bem ao seu lado, Getúlio foi descobrindo todas as mentiras contadas a ele por sua amada, como por exemplo o fato de ela ter dois filhos com seu chefe.  Não aguentando tamanha desonra, decidiu pular do segundo andar. Ninguém conseguiu impedi-lo.

         Logo a polícia chega e o cabo Usvaldo Santos Barroso vai até Ronilsom e sua ex-mulher para pegar seus depoimentos. Depois de horas de investigação, a perícia constatou que Getúlio não havia morrido por conta da queda e sim por uma parada cardíaca no momento do salto, informou a todos, o cabo USB.

Ilustração Stephany Costa, aluna do 2ºA 

domingo, 9 de março de 2014

MAIS PARÓDIAS...

"Naquela casa tem goteiras,
Das chuvas que passaram por lá.
As casas que aqui rodeiam,
São como a daquele piá.

Nas ruas têm coisas feias,
Que assusta a dona Dolores,
Moradora de uma certa rua,
Assustada com tantos horrores.

A situação está precária,
No bairro daquela cidade.
Tanto dinheiro gasto na copa,
E o povo passando necessidade.

As pessoas se manifestam,
Indo as ruas protestar;
Aqueles que nisso acreditam,
Querem ver o Brasil mudar.
Mas nem todos levam a sério,
Vão apenas para zoar.

Não permita Deus que eu morra,
Sem ver este país mudar!
Corrupção, mentira e fome,
Está na hora disso acabar!
Vamos todos nos unir,
E nosso país transformar." 
(Anne Carol - 2º A)
___________

"Minha terra, há muito tempo, 
Já foi um bom lugar. 
Agora está à mercê 
De corruptos que só sabem roubar! 

A natureza, antes tão bela 
Hoje é uma doce e triste lembrança 
Muito verde e águas limpas 
Eu me lembro de quando era criança 

À noite eu fico a pensar, 
Se as coisas continuarem assim, 
Vamos acabar chegando 
Cada dia mais perto do fim. 

Mas reclamar não leva a nada. 
Temos mesmo é que agir 
Seguindo nessa longa estrada, 
Faremos nossa bela terra ressurgir. 
Por mais que não seja fácil 
Nós podemos conseguir! 

Não permita Deus que eu morra, 
Sem poder ajudar, 
Sem ver a luta do meu povo 
Para a pátria melhorar, 
Não permita Deus que eu morra, 
Sem ouvir o sabiá."
(Maria Isabel  Pereira de Deus - 2º A)

PARÓDIAS DA "CANÇÃO DO EXÍLIO"

        Belíssima composição do principal poeta da primeira geração de poetas românticos brasileiros, Gonçalves Dias, a "Canção do Exílio" estava em total harmonia com os pressupostos do Romantismo, tanto temática quanto estruturalmente. A ideia de um Brasil paradisíaco, de belezas naturais inigualáveis, é um de nossos traços identitários indiscutíveis, mas as nossas mazelas têm feito com que, ao longo de nossa história de desmandos e corrupção, tal ideia de "paraíso" seja contestada. Obviamente a métrica e musicalidade do poema de Dias permitem que tal contestação se manifeste através de paródias e muitas delas foram produzidas por grandes escritores e poetas nacionais.
    Convidamos os alunos do 2º A, do Colégio Paulina Borsari, a produzirem algumas paródias deste importante poema e o resultado, postamos aqui.

"Minha terra tem estádios!
Escolas aqui não há.
Os hospitais não estão prontos,
Pois o dinheiro desviado está.

As pessoas reclamam da corrupção,
Mas os governantes foram escolhidos pelo povão.
A cracolândia esta aí a vista de todos,
Mas ninguém quer ajudar esse povo.

As obras nunca ficam prontas;
Quando isso vai terminar?
O que não da é pra ficar das oito ao meio dia
Esperando o transito andar.

O Brasil precisa ir para frente;
Não dá mais para esperar;
Todos já mostraram;
Que os brasileiros sabem reivindicar.

Se for necessário ir às ruas novamente;
Todos vão se juntar;
Por um País mais justo e correto
Vale a pena lutar!"

(Amanda Afonso - 2º A)

IDENTIDADE NACIONAL VOLTA A SER ASSUNTO DISCUTIDO NO PUXADINHO

A preocupação em se definir ou se construir uma identidade cultural para o Brasil foi uma das tarefas sobre as quais se debruçou o Romantismo brasileiro (1836-1881) e um dos textos emblemáticos deste período é, sem dúvida, a “Canção do Exílio”, de Gonçalves Dias.

"Minha terra tem palmeiras,
Onde canta o Sabiá;
As aves que aqui gorjeiam,
Não gorjeiam como lá.

Nosso céu tem mais estrelas,
Nossas várzeas têm mais flores,
Nossos bosques têm mais vida,
Nossa vida mais amores.

Em cismar, sozinho, à noite,
Mais prazer encontro eu lá;
Minha terra tem palmeiras,
Onde canta o Sabiá.

Minha terra tem primores,
Que tais não encontro eu cá;
Em cismar - sozinho, à noite -
Mais prazer encontro eu lá;
Minha terra tem palmeiras,
Onde canta o Sabiá.

Não permita Deus que eu morra,
Sem que eu volte para lá;
Sem que desfrute os primores
Que não encontro por cá;
Sem que ainda aviste as palmeiras,
Onde canta o Sabiá."

 
 

terça-feira, 4 de março de 2014

AGORA PRA FICAR!

Puxadinho de cara nova e em nova fase.
Dois projetos à vista: “Rainhas do Cordel – Ano III” e lançamento do primeiro livro de contos da série “Parças do Puxadinho”.
Além disso, outras socializações de trabalhos e textos movimentarão o blog, que não mais ficará abandonado, às moscas.
Estamos de volta galera, com muita bagagem e disposição de sobra pra colocar tudo no lugar.

Até daqui a pouco!